Quando falamos em tecnologia, nossos
cérebros pensam, quase que involuntariamente, em carros voadores,
robôs e supermáquinas trabalhando em um ambiente futurista. A pandemia
vivida desde o início de 2020 promoveu uma verdadeira corrida pelo uso
da tecnologia em todos os segmentos econômicos. Desde o uso de
aplicativos de entrega até o crescimento acelerado do ensino a
distância, a tecnologia passou a ser uma ferramenta essencial e as
empresas que antes eram relutantes ao seu uso expressivo tiveram que
se render.
No Brasil não foi diferente e, em meio a
corrida tecnológica, várias empresas de tecnologia cresceram e se
destacaram no mercado, chamando atenção de investidores estrangeiros
que buscam, além do mercado consumidor, tecnologia de ponta com mão de
obra especializada.
Segundo os resultados do Tech Report
2019, um estudo realizado pelo Observatório da Associação Catarinense
de Tecnologia (ACATE) em parceria com a Neoway, o setor de tecnologia
obteve um faturamento de R$ 301,7 bilhões, correspondendo a 4,4% do
PIB nacional. Não menos importante, em 2020, o Brasil entrou na lista
dos 20 principais países em um ranking mundial de ecossistemas de
pequenas empresas de tecnologia, as startups. O país subiu 17 posições
na elite mundial no levantamento, que analisa a quantidade e qualidade
das startups, além das instituições de apoio e o ecossistema de
inovação como um todo, inclusive o ambiente de negócios.
De acordo com Claudio Castro, CEO da
Ensinar Tecnologia e Sócio-Diretor da Pitang Agile IT, uma das
empresas destaque nacional em tecnologia, o Brasil pode se tornar
destaque em polos de tecnologia no mundo. “A pandemia nos fez avançar
mais de 5 anos em apenas 3 meses. Estamos vivendo uma revolução
tecnológica e ficou claro que os que não conseguirem se adaptar a esse
novo formato, não conseguirão seguir em frente. Se olharmos para a
educação, por exemplo, o ensino a distância tornou-se essencial,
ganhou força e credibilidade. O panorama neste segmento é que Edtechs
– empresas de tecnologia voltadas para educação – passaram a lucrar
com plataformas de transmissão de conteúdo”, explica.
Entender o que Cláudio explica fica
ainda mais simples quando analisamos os dados de mercado e-commerce
brasileiro, que registrou um crescimento de 47% no primeiro semestre
de 2020, sua maior alta em 20 anos. “A transformação digital é um
caminho sem volta. Mudamos nossos hábitos e o mercado precisa a
adaptar a isso. Dia após dia, o sistema de segurança on-line melhora,
permitindo que as transações de compra e venda, bancárias e outras,
tornem-se mais seguras e atraiam cada vez mais usuários que buscam por
comodidade e otimização de tempo, principalmente”, completa.
Tanto crescimento chamou atenção não
apenas de investidores nacionais, mas internacionais também. Cláudio
revela que nos últimos dois anos as propostas de investimento do
capital estrangeiro se tornaram mais frequentes. Sócio de algumas
empresas de abrangência nacional, o empreendedor fala ao Diário de
Pernambuco sobre as mudanças do mercado na área e o que é possível
esperar do futuro já tão real.
Diário de Pernambuco – O Brasil é considerado um país inovador
em tecnologia?
Cláudio Castro - A Coreia do Sul é o país mais inovador do
planeta. Na sequência, temos a Alemanha, Finlândia, Suíça e Israel,
que é um grande exemplo de desenvolvimento tecnológico. Mas, o que
pouca gente sabe, por exemplo, é que o Brasil está no terceiro lugar
no ranking mundial das indústrias do setor de tecnologias assistivas,
os equipamentos voltados à funcionalidade das pessoas com deficiência.
A participação do país é de 18% no mercado global, ficando atrás
apenas da Alemanha e dos Estados Unidos. Então, sim, acredito que o
Brasil está no caminho para ser um país inovador em tecnologia. Nós
temos capacidade de desenvolver projetos de ponta em todos os
segmentos aqui.
DP – Por que estamos falando tanto em uma revolução tecnológica?
CC – O ano de 2020 foi um divisor de águas para todos nós. A
necessidade imediata de alternativas para que as atividades de todos
os segmentos do País seguissem em plena pandemia fez com que o
desenvolvimento de tecnologias desse um salto muito importante.
Passamos a enxergar a tecnologia como nossa aliada e usá-la para
desenvolver novos projetos, para produzir em larga escala, para criar
soluções para dores do mercado e tantas outras coisas. Ela se tornou o
meio para tudo e essencial para qualquer empresa e mudou a visão de
todos, principalmente os tradicionalistas. Aqueles que não se renderem
à tecnologia, tendem a ficar obsoletos e até falir.
DP – O Brasil pode ser um polo de tecnologia mundial?
CC - O desenvolvimento de parques tecnológicos no Brasil já
acontece desde meados de 1990 e o país tem investido fortemente na
formação desses polos, apoiados pelo aumento significativo da
competitividade da nossa indústria em mercado mundial. Olhando para o
segmento de startups, estamos no TOP 10 mundial, com mais de 12 mil
players e vários “unicórnios”. E não para por aí, empresas já
consolidadas no mercado estão sendo buscadas por investidores
estrangeiros que tem interesse no mercado nacional. Então, no contexto
atual e que deve melhorar ainda mais, temos potencial para crescer
muito ainda.
DP – O que leva as empresas brasileiras destaque em tecnologia
serem sondadas por investidores estrangeiros?
CC – Há muitos pontos que influenciam e que vão muito além do
lucro anual. O desenvolvimento de tecnologia de ponta é uma delas,
tudo que é inédito e eficiente. Atualmente, o mercado busca por
solução para as suas “dores” e os investidores são atraídos por isso.
O mercado tem favorecido as incorporações e união de tecnologias, por
exemplo, a Pitang, em 2020, adquiriu duas outras empresas: BBChain e
Dreamm, líderes das suas áreas. Contratamos mais, recebemos premiações
na nossa área e, tudo isso, nos trouxe mais valor de mercado e
interesse dos investidores em aporte.
DP - O mercado de tecnologia já chegou ao auge ou ainda está
em expansão?
CC – Estamos longe do auge. Não há limitações quando pensamos
em tecnologia. Se você olhar para o crescimento no número de vagas de
empregos, o setor de tecnologia foi um dos grandes destaques de
contratações ao longo de 2020, o número de vagas abertas na área
cresceu 310%, o que vai na contramão dos dados sobre o desemprego no
Brasil, que passa dos 14 milhões de pessoas. Hoje, na Pitang, temos
mais de 50 vagas abertas e todas as semanas temos novas oportunidades.
Há dados que estimam que 42% das empresas brasileiras pretendem
aumentar o orçamento em tecnologia em 2021, tudo em busca da
transformação digital.
DP – Temos profissionais para atender esse mercado em crescimento?
CC – Infelizmente, não. A oferta de profissionais de
programação e desenvolvimento ainda é menor do que a demanda do
mercado, principalmente por profissionais que possuem mais de dois
anos de experiência. Além disso, o mercado estrangeiro tem buscado
profissionais no Brasil, o que reduz ainda mais os profissionais disponíveis.
DP – O que podemos esperar para os próximos anos em termos de
mercado tecnológico?
CC – Crescimento e mais crescimento. A tendência é, com o
passar dos anos, estarmos ainda mais conectados. Otimização de tempo,
novos recursos facilitadores do dia-a-dia, ensino remoto, atendimentos
de saúde, e-commerce, GSP cada vez mais precisos, tudo está em pleno
desenvolvimento com auxílio da tecnologia. É impossível pensarmos na
vida cotidiana sem ela. Os pesquisadores estarão cada vez mais
empenhados nesse desenvolvimento e os investimentos serão cada vez maiores.